Texto: Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves 1

Em 2015 o Papa Francisco publicou a Encíclica Laudato Si’ (LS), uma crítica à sociedade do consumo e a forma inconsequente e irresponsável do desenvolvimento humano a todo custo. É necessário observar que o documento apresenta aspectos para repensar a realidade do nosso mundo e as transformações trazidas ao meio ambiente.

Neste ano, 2023, a Semana Laudato Si’ será celebrada de 21 a 28 de maio, para marcar o oitavo aniversário da histórica encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da criação. Esta celebração global unirá os católicos para se alegrar com o progresso que fizemos ao dar vida à Laudato Si’ e mostrar como os protagonistas de “A Carta” já estão fazendo isso.

O filme “A Carta” foi lançado em 2022 e conta a história de uma viagem a Roma dos líderes da linha de frente para discutir a carta encíclica “Laudato Si” com o Papa Francisco. O diálogo exclusivo com o Papa, incluído no filme, oferece uma visão reveladora sobre a história pessoal do Papa Francisco e histórias nunca vistas. O filme foi lançado no Vaticano no dia 4 de outubro do ano passado, dia de São Francisco, e abordou o poder da humanidade para deter a crise ecológica. Os protagonistas do documentário são um indígena da Amazônia, um refugiado do Senegal, uma jovem ativista indiana e dois cientistas estadunidenses. O longa-metragem é um excelente recurso pedagógico-pastoral. Francisco nos dá condições de lutar e refletir sobre os problemas que enfrentamos.

Francisco faz apelo a todos e todas para uma mudança na condução do planeta: “Esta irmã [Mãe Terra] clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.” (LS, n. 2). A Laudato Si’ é um marco na realidade de uma ética social e o que chamamos de Doutrina Social da Igreja, pois apresenta a realidade da sociedade e do respeito ao meio ambiente. Para tanto, é preciso observar o caminho vivido e, diante da realidade, mudar nossa conduta. Na encíclica, Francisco apresenta a realidade do bem comum e o cuidado pela pessoa humana, principalmente em uma sociedade individualista e egoísta: “O bem comum pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o seu desenvolvimento integral” (LS n. 157).

Infelizmente o ser humano, com sua necessidade de poder e ganância, compromete a natureza e o bem de todos. Diante deste cenário o antropocentrismo comprometeu todo o ecossistema pois colocou o ser humano como o centro de tudo. Para tanto, é preciso estar atento à convocação do Papa Francisco, que admoesta o ser humano que se acha o dono e proprietário de tudo no planeta.

Em tempos de crise, a sociedade não pode viver apenas para o consumo, onde o importante é acumular tudo que for possível desde bens materiais até os bens imateriais. Francisco é crítico e categórico no parágrafo 119 da Laudato Si’: “A crítica do antropocentrismo desordenado não deveria deixar em segundo plano também o valor das relações entre as pessoas. Se a crise ecológica é uma expressão ou uma manifestação externa da crise ética, cultural e espiritual da modernidade, não podemos iludir-nos de sanar a nossa relação com a natureza e o meio ambiente, sem curar todas as relações humanas fundamentais”.

O caminho a ser trilhado é do acolhimento e da responsabilidade com o meio ambiente. Não se pode achar que os bens naturais são ilimitados. Desta forma é urgente pensar em que mundo queremos viver e deixaremos para as futuras gerações. De fato, neste contexto, precisamos observar a dor do outro e sua condição neste mundo: “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrá-la em benefício de todos. Se não o fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros” (LS, n. 95).

Atento ao clamor de uma sociedade excludente e individualista, Francisco nos lembra que vivemos em uma relação social: “É necessário voltar a sentir que precisamos uns dos outros, que temos uma responsabilidade para com os outros e o mundo, que vale a pena ser bons e honestos. Vivemos já muito tempo na degradação moral, baldando- nos à ética, à bondade, à fé, à honestidade; chegou o momento de reconhecer que esta alegre superficialidade de pouco nos serviu. Uma tal destruição de todo o fundamento da vida social acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses, provoca o despertar de novas formas de violência e crueldade e impede o desenvolvimento duma verdadeira cultura do cuidado do meio ambiente” (LS n. 229).

Que possamos colocar em prática boas ações e lutar pela manutenção da Terra nos empenhando, verdadeiramente, na defesa e preservação da vida, sobretudo, dos mais pobres e sofredores.