– Texto de Robson Ribeiro – Professor de Ensino Religioso do Colégio dos Santos Anjos

 

No último dia 25 de junho, o Colégio dos Santos Anjos de Juiz de Fora realizou uma manhã de Retiro, de partilhas e vivências com a participação dos professores e demais colaboradores. Começamos os trabalhos com a inspiração bíblica do trecho das Bodas de Caná (Jo 2, 1-11). Neste trecho encontramos a realidade de Jesus em uma festa de casamento.

As Bodas de Caná constituem o início dos sinais, ou seja, o primeiro milagre realizado por Cristo, desta forma, o acontecido em Caná da Galileia é o começo de todos os sinais, e que se prolongará ao longo da vida de Jesus. Contudo, na ocasião das bodas de Caná, Jesus não era conhecido, ainda, como Messias, ele era conhecido com a função que aprenderá com seu pai, José, ou seja, era: Jesus de Nazaré o carpinteiro.

Assim, Jesus, ao se fazer presente em Caná, deu novo sabor, ou seja, esperança e alegria às bodas da história humana, com o vinho bom, saboroso, que ativa a alegria da festa. Entretanto, a realidade apresentada não poderia se concretizar se não fosse pelas palavras de Maria e sua sensibilidade. Maria conhecia seu filho sabia que seu generoso coração não ficaria indiferente.

Papa Francisco, comentando este texto do Evangelho de João, afirma: “Nas bodas de Caná, Jesus começa seus sinais e ‘manifesta-se como esposo do Povo de Deus e nos une a ele com uma nova aliança de amor, que nós, sua família, temos que cuidar e estender a todos’. Maria avisa Jesus de que falta o vinho, este é um elemento típico do banquete messiânico e simboliza a abundância do banquete e a alegria da festa”.

Após uma reflexão, tivemos a participação da Irmã Marilia e Irmã Marina, falando-nos deste momento importante e singular em nossas vidas e, principalmente, pela comemoração dos 130 anos da chagada das Irmãs dos Santos Anjos no Brasil.

A fala que se seguiu foi do Professor Cesar Kuzma, teólogo e professor da PUC-Rio, que abordou, dentre outros temas, a questão da Esperança, foco de nossa manhã de Retiro. Cesar apresenta a realidade do olhar de Maria nas bodas de Caná e sua intercessão. Nos mostra a esperança em tempos complicados e com grandes dificuldades. Além de apresentar nas Encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, do Papa Francisco, aspectos desta esperança e do cuidado.

O apelo para ter esperança é observar as mudanças necessárias de uma rotina que não condiz com a nossa realidade. Neste tempo de pandemia muitas questões vieram à tona, entre elas o que é o normal, o que é a fé e a necessidade de reconhecer a esperança que se renova a cada pequeno milagre ao longo dos dias.

Vivemos um período pós-pandemia, ainda não é possível prever o caminho a ser seguido. Mês a mês, semana a semana nos deparamos com dificuldades que, diante do avanço de casos, nos deixam apreensivos. Entretanto, mesmo com esta situação, temos a convicção de que a vacina é o melhor caminho para evitar as mortes que, no Brasil, superaram o alarmante número de 4.000 mortos em um único dia.

Diante deste cenário inconstante uma pergunta fica: Podemos ter esperança de dias melhores? A primeira condição é que há de ter a esperança de uma consciência humana em algo que é maior: o bem de todos e todas, que, chamaremos de bem comum.

Para tentar responder essa pergunta, primeiro temos que contextualizar: Vivemos um período de grandes transformações: sociais, econômicas, políticas e educacionais. O ser humano se vê, diante de tantas situações, desnorteado. Diante dos desafios, somos chamados a nos colocar no processo de reinvenção do cotidiano, algo nunca pensado. Para tanto é necessário ter cuidado com a vida, respeitar o próximo e, principalmente, as gerações.

É preciso, urgentemente, se fazer ouvir e articular o maior crescimento da consciência humana sobre o que é ser humano e a sua relação com a educação. Por isso, pensar em um eficiente processo educacional só será possível diante de uma Educação Integral do ser humano. Por isso, ainda há esperança? Retomamos a pergunta para primeiro pensar em uma esperança em Deus, mas um aspecto de esperançar frente aos desafios. Por isso esperançar em Deus nos ajuda a conhecê-lo melhor. Esperançar em Deus fortalece a nossa fé e gera paciência. Esperançar em Deus nos prepara para recebermos bênçãos maiores do que as que pedimos. Os planos de Deus são maiores do que os nossos planos. Esperar em Deus possibilita a realização de grandes coisas em nossas vidas.

Em continuidade neste caminho, o Professor Robson Ribeiro iniciou uma dinâmica em que foi proposta a ação de cada integrante do Retiro com um copo contendo um pó para tentar analisar o que é e observar. Uma pergunta norteadora foi feita: O que eu faço com o que recebo de Deus? Quais os desafios? Com isso cada um pode colocar o que achava por bem no seu copo para dar consistência naquilo que tinha ali: água quente, água fria e outros complementos. No fim, foi possível observar as diferenças de cada um e a realidade de uma unidade em nossos debates.

Com esta proposta, diante deste contexto pandêmico, se faz necessário, uma transformação na educação. Por isso, a Campanha da Fraternidade 2022 com o tema “Fraternidade e Educação” nos convida a escutar os ensinamentos de Cristo, que se coloca como servo. Ele é o Educador que nos dá a condição de aprender com nossas realidades e em nossos contextos, ou seja, observando a realidade de cada um.

Para isso, com o intuito de mudar nossa conduta precisamos ir além das aulas e dos cursos, criar uma rede de relações humanas e abertas, capazes de ouvir. De nos ouvir! Ouvir nossas dificuldades e problemas enquanto professores e, diante disso, não perder a esperança. A educação hoje precisa criar critérios, por exemplo: o que é importante para os alunos e como fazer com que eles voltem o seu olhar e o interesse para a educação? Por isso, o conhecimento é algo que é vivo e não congelado, está em constante movimento.

Infelizmente ainda temos pessoas que negam a realidade, ou seja, há mais pessoas amaldiçoando a escuridão do que acendendo velas para iluminar. Nesta metáfora é nítida a necessidade de se movimentar e esperançar, como já disse Paul Freire: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

Por isso, a nossa pergunta inicial tem uma resposta: Sim é possível ter esperança! Esperança no ser humano, na sociedade que luta por condições melhores e, acima de tudo esperança na educação. Desta forma, é urgente retomar nosso propósito de vida e, acima de tudo, cuidar do outro, se colocar a escutá-lo e a fazer um processo de encontro. Neste aspecto a educação é a condição de uma grande conquista, pois é com a educação que temos as bases das nossas relações. Não podemos fugir disso, nem mesmo deixar de lado a realidade de uma sociedade que se preocupa somente com a realidade financeira e esquece de escutar, se colocar como aquele que serve, como Cristo fez.

Por fim em consonância com a fala de Paulo Freire, a Exemplo de Jesus, quero trazer aqui uma singela recordação de Dom Helder Câmara, “Deixa-me acender cem vezes, mil vezes, um milhão de vezes de esperança que ventos perversos e fortes teimam em apagar. Que grande e bela profissão: acendedor de esperança”. Ecoando os pedidos de Francisco.