Já parou para se perguntar a respeito de que modo você aprendeu coisas simples, como colocar um aparelho na tomada, acender e apagar luzes ou colocar tampas em potes? Costumamos dizer que a felicidade está nas coisas simples da vida e com certeza seria muito difícil viver sem estas habilidades básicas.

Minha primeira reflexão neste sentido aconteceu no dia em que abri a caixa de um ventilador comprado pela internet
e em vez de encontrar o equipamento pronto para uso, me deparei com um apanhado de peças soltas. Minha única
opção foi sentar e tentar, uma vez que sentar e chorar não me levaria a solução alguma. E pasme! Dei conta da tarefa em apenas alguns minutos!

Desenvolvimento motor e cognitivo andam juntos. Brincadeiras infantis simples como pular corda e amarelinha, por exemplo, contribuem para o aprimoramento de competências e habilidades importantes na vida, como a compreensão de leis básicas da física, aperfeiçoamento de coordenação motora e criatividade, avaliação de hipóteses, entre outras.

No caso dos idiomas, a teoria é a mesma. Sempre se diz que as crianças são capazes de aprender “a pronúncia perfeita do inglês” por conta de seu aparelho fonador ainda em desenvolvimento, o que a deixaria mais pronta para assimilar e reproduzir qualquer som ainda que desconhecido.

Sem deixar esta teoria de lado, também é importante considerarmos que quando a criança ouve uma conversa em outro idioma, ela ainda não tem sua língua materna totalmente constituída como base única para criar associações automáticas de pronúncia e escrita restritas a esse referencial. Se estivéssemos falando de música, diríamos que a criança tem aquilo que chamamos de “ouvido absoluto”, ou seja a capacidade de perceber e identificar sons sem distorção.

Em outras palavras, o processamento de palavras estrangeiras no cérebro da criança acontece de maneira direta, sem passar pelo filtro da língua materna. É esta escuta livre de filtros que permite que a criança seja capaz de reproduzir os sons com mais “perfeição”, ou seja, sem modificá-los para que “caibam” dentro do modelo de pronúncia ao qual estão acostumadas, como fazem os adultos em seu primeiro contato com um novo idioma. Estimular o contato da criança com outras línguas e culturas traz mudanças fisiológicas tão importantes ao cérebro, que vêm se tornando cada vez mais o foco principal de inúmeras pesquisas científicas, abordando até mesmo benefícios cerebrais que reduzem a incidência de males como Alzheimer e demência senil.

A tão comentada “janela da oportunidade” na aquisição de línguas é, na verdade, um processo biológico: a mielinização, que permite que a comunicação entre neurônios aconteça com mais rapidez. Quanto mais jovem a criança, mais intenso este processo. Daí a importância da exposição a oportunidades variadas de solução de problemas envolvendo criatividade. Conexões neuronais estabelecidas no início da vida se mantêm até a vida adulta, o que significa que soluções para problemas encontrados na infância ficam gravadas para sempre na memória neuronal do indivíduo. São estas experiências que garantem que cheguemos à vida adulta com traquejo para lidar com uma ampla gama de situações de algum modo semelhantes às que vivemos quando crianças, desde as mais simples como encaixar tampas ou tomadas até as mais complexas como empatia e solidariedade.

Sim, nós devemos ser muito gratos aos pais, cuidadores e professores que nos deram oportunidade de brincar de Lego, pegapega, esconde-esconde e todas os jogos maravilhosos que ajudaram a construir os adultos de sucesso que somos hoje. Quando realizadas em outro idioma, estas brincadeiras se tornam ainda mais poderosas pois o desafio cognitivo aumenta e mais estruturas cerebrais são mobilizadas, gerando ainda mais benefícios à massa cinzenta do futuro adulto espetacular, competente e cheio de habilidades de vida!

Agora, pense em como você pode estimular o desenvolvimento cognitivo dos seus filhos! Quais brincadeiras trariam a eles boas oportunidades para raciocinar, testar hipóteses e usar a criatividade na solução de problemas?

Artigo por Ana Ribeiro – Coordenadora do Advisory Team da International School