– Texto de Robson Ribeiro – Professor de Ensino Religioso do Colégio dos Santos Anjos

A liturgia católica consagra a São José o dia 19 de março que assumiu a sua missão de pai e com coragem e fé, recebe Maria, grávida e também a paternidade de Jesus. Na Sagrada Escritura não se encontra uma palavra de José. Mas sua presença é essencial na condução da família e educação de Jesus. José é um homem simples que aceitou Maria como sua esposa e, com seu trabalho e suas mãos, foi o responsável por ensinar a Jesus o ofício de carpinteiro.

Papa Francisco ao escreve a Carta Apostólica PATRIS CORDE, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como Padroeiro Universal da Igreja, afirma que: “São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.” (PATRIS CORDE, 2020, n. 6). No exemplo de José, Jesus aprendeu o ofício de carpinteiro e aprendeu também a manipular as ferramentas certas para cada tipo de madeira. Foi sua presença que colaborou para a educação que Jesus recebeu. Destarte Jesus conseguiu compreender a sua missão, atento ao que via na carpintaria de José, transformando um pedaço torto de madeira em lindos objetos.

Ao longo da vida de Jesus, José presenciou o crescimento do Menino “em sabedoria, idade e graça diante do Senhor e das pessoas” (Lc 2,52). Assim, José se fez presença na vida de sua família, desde o início ao aceitar Maria, na fuga para o Egito e em vários momentos ao longo de sua vida. Sendo assim, Jesus viu seu pai trabalhando na carpintaria e se colocou ao serviço.

José é o fiel colaborador do Projeto de Deus! Assume a função de pai e esposo, além de ser responsável pela educação de Jesus, se coloca atento aos desígnios de Deus. Por isso em nossa realidade: “A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia.” (PATRIS CORDE, 2020, n. 6).

De fato, diante da leitura atenta à Palavra de Deus, é possível observar o Pai da ternura que foi São José, como a carta Patris Corde nos apresenta: “A vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também através da angústia de José. Assim, ele ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir inclusive através dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza. E ensina-nos que, no meio das tempestades da vida, não devemos ter medo de deixar a Deus o timão da nossa barca. Por vezes queremos controlar tudo, mas o olhar d’Ele vê sempre mais longe.”(PATRIS CORDE, 2020, n. 2).

Assim a presença de José, sua coragem ao assumir a paternidade de Jesus e as responsabilidades e funções na vida familiar corrobora para compreender que, no silêncio, José colocou-se atento aos desígnios de Deus. Para tanto, o Papa Francisco apresentou-nos a imagem de José nos dias atuais como aquele pai que está atento à criação dos filhos e que sua ausência é sentida na formação dos indivíduos. Ressalta que as famílias estão comprometidas com a ausência do pai, por isso é preciso observar a figura paterna na formação da personalidade e do caráter de filhos e filhas. Por isso que, José, diante da realidade, é o pai do acolhimento.

Diante deste cenário, o Papa Francisco acrescenta que: “A crise do nosso tempo, que é econômica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova ‘normalidade’, em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. (…) Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nós possamos nos comprometer e dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!” (PATRIS CORDE, 2020, n. 6).

A realidade social da época de José é bem diferente da nossa, mas a missão é a mesma: cuidar, acolher e proteger a família. Desta forma, na carpintaria de José, Jesus entendeu o que é lutar pelos fragilizados e pelos mais pobres. Com o suor de seu pai ele viu o alimento chegar até à mesa e, ao findar de cada dia, soube agradecer a Deus o dom da vida.

Hoje, José se apresenta na realidade de homens e mulheres que saem para trabalhar, mesmo em meio aos desafios para conseguir o pão de cada dia para suas famílias. Assim, cada trabalhador cimpre os valores éticos e espirituais inerentes à função de pai e mãe, correndo riscos em defesa da família. São José é o santo das famílias, dos trabalhadores e, acima de tudo, dos pais que buscam, pela sua intercessão, um emprego, um conselho e a coragem para guiar a família.

Na relação de pai e filho, atento aos desígnios de Deus, não podemos nos esquecer de Dom Pedro Casaldáliga, Bispo de São Felix do Araguaia, falecido aos 8 de agosto de 2020 que, em um breve poema, com o título “E o Verbo se Faz Classe” escreve: “No ventre de Maria Deus se fez homem. Mas, na oficina de José, Deus também se fez classe.” Essa é a voz de uma resistência contra a opressão dos poderosos e dos que buscam o enriquecimento acima de qualquer realidade. Jesus também atuou como membro de uma classe trabalhadora que levava o sustento da família para casa todos os dias. Desta maneira, a classe trabalhadora vê em José um exemplo de integridade e comprometimento com a família e o trabalho.